Ewerthon Tobace
De Tóquio para a BBC Brasil
Atualizado em 18 de setembro, 2012 - 08:56 (Brasília) 11:56
GMT
A crescente tensão entre China e Japão, por causa da disputa pelas ilhas
de Senkaku ou Diaoyu, como são conhecidas na China, entrou nesta terça-feira no
sétimo dia consecutivo de protestos, com milhares de manifestantes nas ruas de
mais de cem cidades chinesas.
Multidões lembraram também o aniversário da ocupação japonesa no
nordeste do país em 1931.
Policiais armados garantiram a segurança na região próxima ao
Consulado-Geral do Japão em Xangai, onde cerca de 7 mil chineses se
concentraram.
Eles atiraram garrafas de plástico e outros objetos contra o prédio,
enquanto entoavam palavras de ordem como "Fim ao imperialismo
japonês", "Boicote aos produtos japoneses" e "Destrua o
Japão e recupere Okinawa".
Os manifestantes também gritavam para "nunca se esquecer da
humilhação nacional. Nunca se esquecer do dia 18 de setembro", uma
referência ao que ficou conhecido como "incidente de Mukden".
No dia 18 de setembro de 1931, soldados japoneses explodiram uma
ferrovia na Manchúria, no nordeste da China, e culparam dissidentes chineses.
Mais tarde, foi revelado que na verdade o incidente foi um pretexto para a
invasão da região.
Nacionalização
O surto de sentimento antinipônico na China é o maior das últimas
décadas e começou na semana passada, quando o governo japonês nacionalizou as
ilhas de Senkaku, disputadas pelos chineses, japoneses e também taiwaneses.
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O arquipélago
disputado é formado por cinco ilhas e três recifes.
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Japão, China e
Taiwan brigam pela posse delas há mais de duas décadas; elas são controladas
atualmente pelo Japão e fazem parte da província de Okinawa.
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O governo
japonês assinou um acordo no começo deste mês para comprar três das ilhas do
empresário japonês Kunioki Kurihara, que as “alugava” para o estado.
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As ilhas foram o
foco de uma intensa briga diplomática entre Japão e China em 2010.
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A região contém
reservas de gás potencialmente enormes.
Elas pertenciam a investidores privados do Japão, e a medida foi tomada
para evitar que o governador nacionalista de Tóquio, Shintaro Ishihara,
comprasse o arquipélago e construísse instalações no local, o que irritaria
ainda mais o governo chinês.
Desde então, postos diplomáticos e empresas japonesas instaladas na China
viraram alvo dos manifestantes.
A Mitsubishi Motors anunciou nesta terça-feira que suspendeu as
operações em uma de suas fábricas na China. Já a Yamaha Motor também paralisou
quatro fábricas, enquanto a Honda ficará dois dias sem produzir.
A agência de notícias Kyodo informou que a fabricante de carros Toyota
também planeja suspender operações em algumas plantas.
Além de indústrias, redes de restaurantes, supermercado e shopping
centers, como a Aeon e Seven & I Holdings, decidiram fechar as portas,
depois de algumas unidades terem sido seriamente danificadas por manifestantes.
A imprensa estatal chinesa alertou para riscos às relações comerciais
entre as duas maiores economias asiáticas. Os dois países registraram um
comércio bilateral de US$ 345 bilhões no ano passado.
Hong Lei, porta-voz da chancelaria chinesa, disse que o governo vai
garantir proteção às empresas japonesas. Ele também lembrou que os
manifestantes precisam respeitar as leis.
Medo
Japoneses que moram na China também começaram a voltar para o Japão, com
medo de uma escalada na violência, segundo o noticiário local.
Empresas que mantêm funcionários no país pediram para que evitem sair
sozinhos às ruas e usar o idioma japonês.
Por enquanto, apenas a fabricante de maquinários Hitachi ordenou a volta
de 25 funcionários ao arquipélago.
O canal de TV Asahi entrevistou japoneses que moram em Xangai. Com medo,
crianças deixaram de ir à escola e famílias permanecem trancadas em casa o dia
todo.
Por causa do aumento das tensões na região, o secretário de defesa
norte-americano Leon Panetta desembarcou hoje em Pequim para conversar com
líderes chineses.
Ele não mencionou a disputa, mas pediu um contato militar mais próximo
entre os Estados Unidos e a China.
"Nosso objetivo é fazer com que os Estados Unidos e a China
estabeleçam a relação bilateral mais importante no mundo, e a chave para isso é
uma relação militar forte", disse Panetta.
O secretário norte-americano esteve em Tóquio na segunda-feira, onde
alertou sobre uma escalada do conflito e pediu calma a ambos os lados.
"É extremamente importante que ambas as partes usem os meios
diplomáticos para uma resolução construtiva", falou.
Disputa
As ilhas, localizadas no extremo sul do Japão, são motivo de discórdia
entre China e Japão há muito tempo. As últimas ações redobraram a tensão, e a
imprensa japonesa tem falado até em conflito naval.
No último mês, ativistas dos dois países se envolveram em ações na
região das ilhas vistas como "provocação".
Na manhã de terça-feira, dois japoneses desembarcaram nas ilhas, então
desabitadas. Antes, uma frota com cerca de mil barcos pesqueiros chineses se
dirigiu rumo ao arquipélago.
No entanto, analistas dizem que os danos causados pela ação do governo
japonês foram bem menores se comparados à possível compra pelo governador de
Tóquio.
De qualquer forma, com a proximidade das eleições no arquipélago, o
governo japonês não deverá voltar atrás na sua decisão.
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