Guilherme Russo, O Estado de S. Paulo - O Estado de S.Paulo
17/10/2012
HAVANA - Cuba
anunciou na terça-feira, 16, que em 14 de janeiro de 2013 eliminará
restrições para que seus cidadãos deixem o país. Publicado na Gazeta Oficial, o
Decreto 302 suspende da Lei de Migração a necessidade da permissão de saída -
atualmente concedida pelo governo após análise de cada pedido -, obtida depois
da apresentação da chamada carta-convite, que os cubanos conseguem com
estrangeiros e apresentam à autoridades para viajar para o exterior.
A nova legislação ainda garante às autoridades da ilha o
direito de restringir a concessão de passaportes - cujo preço da emissão deverá
dobrar, para cerca de US$ 100 - e a própria saída dos habitantes do país. A
medida foi duramente criticada pela dissidência cubana, pois, segundo os
opositores, não implicará nenhuma mudança prática em relação à política
migratória anterior (mais informações nesta página).
O advogado dissidente René
Gómez viu como "positiva" a anulação da necessidade da carta-convite
- pela qual estrangeiros costumam cobrar até US$ 190. Pela permissão de viagem,
chamada de "carta branca" na ilha, as autoridades cobram US$ 150.
"Ficou mais barato sair. Contudo, as restrições continuam."
Segundo os Artigos 23 e 25 da
nova lei, "quando razões de defesa e segurança nacional assim
aconselhem", os cubanos ainda poderão ser impedidos de obter passaportes e
proibidos de deixar a ilha - o que abre precedente para que qualquer pessoa
seja impedida de sair do país. "Quando outras razões de interesse público
o determinarem", as autoridades também poderão restringir a saída de Cuba.
Havana afirmou que
"somente se exigirá a apresentação do passaporte atualizado e o visto do
país de destino".
Médicos, esportistas e
pesquisadores - profissionais que muitas vezes fogem do país ao deixar a ilha
ou conseguem viver em outras nações com permissão oficial de Havana -
precisarão da "autorização estabelecida, em virtude das normas dirigidas
para preservar a força de trabalho qualificada para o desenvolvimento econômico,
social e técnico-científico, assim como para segurança e proteção da informação
oficial", afirma o decreto.
Havana, que culpa os EUA pelo
"roubo de cérebros", restringiu viagens ao exterior em 1961, para
deter emigrações ocorridas após a Revolução Cubana. A nova lei - uma das
medidas mais esperadas desde que Raúl Castro começou a aplicar mudanças
socioeconômicas na ilha, no fim de 2010 - ainda estendeu de 11 para 24 meses o
tempo que os cubanos podem permanecer fora do país sem perder o direitos à
residência.
Com Reuters